Minha infância foi marcada por aventuras fantásticas…  Eu viajava no tempo e no espaço,  nas páginas dos livros infantis… Mergulhei “Vinte Mil Léguas Submarinas”  com Júlio Verne… cruzei oceanos caçando “Moby Dyck”… fui atrás de tesouros com “Tom Sawyer”…

E dentre tantas aventuras, uma das que mais mexeu com minha imaginação foi “A Chave do Tamanho” de Monteiro Lobato… Nesse livro, a turma do Sítio do Pica-Pau Amarelo, querendo acabar com as guerras, vai a um lugar onde ficam as chaves de tudo que há no mundo… Tentando desligar a “chave da guerra”, acabam mexendo na “chave do tamanho”… Num segundo todas as pessoas são reduzidas ao tamanho de insetos e o planeta se transforma totalmente… Ninguém mais teme tanques de guerra ou bombardeiros… entretanto, galinhas e gatos passam a ser ameaças terríveis… Toda a humanidade se vê forçada a se adaptar à nova realidade… o dinheiro perdeu utilidade e coisas desprezíveis como um simples alfinete, um pedaço de linha ou um dedal se tornaram importantíssimas… Enquanto algumas pessoas se adaptavam, outras resistiam à nova realidade, presas a conceitos e valores passados que já de nada valiam …

Nunca imaginei que um dia, já com certa idade, pudesse experimentar, na vida real, uma experiência dessas… mas eu estava enganado… Como no livro, de repente um vírus mudou o mundo que conhecíamos… Tudo ganhou dimensão e valores diferentes…

De uma hora para outra, nos demos conta do quanto estamos próximos uns dos outros e nossas vidas entrelaçadas, apesar de nossas diferenças… Como personagens dessa história real, nos vimos impulsionados a reaprender a viver nessa nova realidade…

Infelizmente, enganam-se aqueles que resistem às mudanças, achando que tudo passará rapidamente… Por maior que seja nosso desejo de voltar à antiga “normalidade”, isso não altera o tempo e os fatos… Nunca mais seremos os mesmos… Precisamos ser realistas…

Mas, como em tudo, haverá uma lição a ser aprendida… Alguns sairão fortalecidos e mais sábios e generosos… Pessoas que compreenderão que somos uma grande família mundial e que precisamos nos amar e cuidar uns dos outros… Entretanto, alguns que se recusam a  mudar seus dogmas e hábitos, talvez tenham que aprender pela forma mais difícil, com perdas irreparáveis e o sentimento culpa por terem fechado os olhos à ciência e o ouvido à razão… até que um dia (que só Deus sabe quando), alguém consiga desligar a chave dessa pandemia… ou acionar em todos nós, as chaves da lucidez e da fraternidade… (B.J.Falcão 01/06/2020)