Estava trabalhando em meu escritório… A noite avançava madrugada adentro… De repente me peguei olhando para o quadro de avisos que instalei estrategicamente, ao alcance da vista… Ali separados por cores – vermelho, amarelo e verde – entre “urgentíssimo”, “urgente” e “lembrar”, havia todo tipo de compromissos: consultas médicas, agenda de trabalho, tabela de dieta, quadro financeiro pessoal… Minha vida dividida entre um calendário preenchido e tabelas de avaliação de resultados…

Por um instante, parei e pensei: e se eu morresse agora? O que seriam desses compromissos inadiáveis? Que seriam das consultas agendadas? Das viagens programadas? Do dinheiro que tenho guardado? Quem faria meu trabalho?

Certamente tudo seguiria sem mim… Compromissos seriam desmarcados, viagens canceladas, o dinheiro e bens partilhado entre herdeiros… e meu trabalho, feito por um novo burocrata debruçado sobre a legislação e os processos… Tudo se resolveria naturalmente, como se eu nunca tivesse estado ali…

O pranto de uns poucos ou a indiferença da maioria, para quem eu era apenas mais um anônimo no mundo, teriam o mesmo peso e não mudariam em nada o fato… Me dei conta do  quanto nossa vida, em sua essência, só importa a nós mesmos…

Por isso eu precisava de um novo quadro de avisos… Um quadro de avisos onde estivessem anotados e agendados coisas realmente importantes: visitar meus filhos… rever os amigos… descer para o litoral apenas para ver o mar… parar o serviço por algumas horas e chamar minha esposa para passear de mãos dadas… Tanta coisa realmente importante!

Lentamente, retirei um a um os papéis e anotações do quadro de avisos… Escrevi para mim mesmo três frases… Para “lembrar”, anotei AME E SEJA FELIZ…. como “urgente”, anotei COMPARTILHE ESSE AMOR E ESSA FELICIDADE… e como “urgentíssimo”: O TEMPO PASSA DEPRESSA, PORTANTO, ISSO COMEÇA AGORA

Desliguei o computador e voltei para cama, abraçar minha esposa. (B.J. FALCÃO)