Dez, nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três, dois, um…. Zero!… Feliz Ano Novo! Feliz Ano Novo! – gritavam as pessoas aqui e ali, nos apartamentos vizinhos… até que, de uma das janelas, uma voz solitária entrecortou o ambiente festivo, sem interrompe-lo: – Adeus ano horrível!
Talvez não fosse a palavra exata para aquela ocasião… nem mesmo para definir o sentimento coletivo… mas era de uma sinceridade ímpar e saiu como um estouro de champagne, desobstruindo o que ficara entalado na garganta de todos durante 2020… Um estouro que fez verter com maior fluidez a alegria tímida das festas menores e mais íntimas – consequência da virada deste ano atípico…
Aos poucos os fogos foram silenciando… Uma a uma as janelas se apagaram… E como por mistério, o momento festivo passou rapidamente, da mesma forma que chegara… Era quase como se uma contagem regressiva silenciosa nos trouxesse novamente à realidade…
E sorrateira, a madrugada veio como tantas outras…
Mudaram as horas, mudou o dia, o ano… mas, lentamente, tudo parecia igual ao que sempre foi… Eu, pouco afeito a festividades extensas e descrente de alegrias duradouras, peguei no sono… e como de costume, acordei, com as primeiras luzes da manhã…
Ao meu lado, minha esposa dormia, tranquila… Olhei pela janela…. Havia chovido… A paisagem parecia lavada… Raios de sol brilhavam, refletidos nas pequenas gotículas dependuradas no arbusto defronte à sacada…
Ainda um pouco sonolento, de início não reparei em nada… Tudo parecia estar no mesmo lugar… Entretanto, podia sentir que havia algo diferente… algo como uma força estranha nascida no extremo oriente e que avançara em direção ao leste enquanto eu dormia… Uma força que atravessou fronteiras e atingiu a todos, invadindo nossas vidas sem que nos déssemos conta…
O ano de 2021 propagou-se de forma rápida e, em 24 horas, instalou-se, transformando o mundo… reacendendo, em cada um, a centelha divina que denominamos FÉ… e nos contaminando, irremediavelmente, com essa força invisível, chamada ESPERANÇA! (B. J. Falcão).