Apesar de não ser um grande fã de comédias, há alguns anos, fiquei encantado com o filme “O Feitiço do Tempo”, o qual recomendo. Nele, um famoso jornalista é designado para cobrir uma festa em uma cidade do interior onde, vítima de um feitiço, acaba preso no tempo… Todos as manhãs quando ele acorda, está no mesmo dia, no mesmo lugar e vive as mesmas situações… Os dias vão se repetindo idênticos, mas ele vai mudando seu jeito de ser e agir… até que consegue quebrar o encantamento.

Além de muito engraçado, a principal lição do filme é que na vida, temos a oportunidade de sermos melhores a cada dia e, quando não o fazemos, seguimos repetindo erros, como se estivéssemos presos no tempo… Porém, embora o tema seja excelente, não é sobre isso que quero falar… Vou falar sobre a sensação do personagem principal ao se ver preso nessa situação repetitiva…

Ao se dar conta de que sua vida se tornou uma eterna reprise, o protagonista entra em surto, mas, aos poucos vai se adaptando e, finalmente, consegue se libertar da insólita situação…

Hoje me dei conta que tenho me sentido como esse personagem… De repente, de uma hora para outra a minha vida e a de todo mundo mudou… Perdemos o contato com as pessoas, no trabalho, nas escolas, nos clubes, nas igrejas…. Acabaram-se festas, exposições, shows… Viagens foram canceladas, casamentos adiados, projetos suspensos…

Apesar da esperança e confiança em Deus, que carrego, é inevitável nos sentirmos amargurados pela falta de planejamento de nossas próprias vidas… Tudo resumiu-se ao trabalho remoto, aos contatos por whatsapp, reuniões virtuais… acordar, trabalhar, comer, dormir e acordar novamente para começar tudo de novo, como foi ontem, anteontem… há cinco meses atrás… É um tal de colocar máscara, lavar as mãos, passar álcool, manter distância e sempre com aquele medo de falhar em algum item de segurança… Pior ainda para quem está enfrentando problemas financeiros, de saúde ou de morte na família sem poder, sequer, se  despedir…

Sei que um dia estaremos livres desse “feitiço do tempo”… Olharemos para trás aliviados… porém, olharemos para o futuro, sempre com maior cautela e receio… O trauma desses tempos sobreviverá em nós além do vírus – isso é fato…

Por ora, vivemos uma fase de adaptação e de monótonas repetições… Estamos cansados e com os nervos à flor da pele… Mais do que nunca precisamos pedir a Deus serenidade para atravessarmos essa fase com mais paciência… paciência para conosco… paciência para com os outros… Tudo isso será superado… Como no filme, só quebraremos o encantamento tornando-nos melhores, para chegarmos do outro lado, saudáveis mental e espiritualmente, capazes de seguirmos adiante… (B.J.A.Falcão)