Certo dia, estava conversando com um amigo que, como eu, acumula muitos anos servindo à Justiça… Ele afirmava e insistia que “justiça” é uma coisa que não existe – é um conceito subjetivo e humano, dependendo de quem está analisando a questão.

Apesar de conhecê-lo como uma pessoa muito inteligente, divirjo desse conceito…. Para mim que creio em Deus,  o senso de justiça é algo inato ao ser humano… Como nos ensina a Palavra, o Pai nos criou a sua imagem e semelhança e, assim, nos legou certas características próprias: bondade, generosidade e também, a consciência do que é justiça…

Sei que o mundo pode corromper nossas concepções, decisões e atitudes, mas isso não altera o fato de sabermos intimamente o que é certo ou errado. Qualquer criança, tem a capacidade intuitiva de perceber o que é justo ou injusto…

Se dividirmos de forma desigual alguns bombons entre um grupo de garotos, aqueles que foram beneficiados na divisão, provavelmente irão se calar e até sentir-se satisfeitos… Da mesma forma, quem recebeu menos se sentirá lesado…  Entretanto uma coisa é certa: todos saberão que a partilha foi injusta…

E analisando, você pode questionar: – Bem, os bombons são meus e posso dividi-los com quem quiser e como quiser…

Sim! Você está correto… Qualquer um pode decidir injustamente… Porém, embora o fato de deter o poder de decidir massageie o ego do injusto e o faça sentir-se poderoso, esse poder discricionário não afasta o fato de que a decisão foi errada… É por isso que a justiça é representada por uma balança… Justiça implica em  equilíbrio…

Tenho para mim esta convicção: se a justiça não representar o equilíbrio entre as partes, é porque refletiu o desequilíbrio de quem decidiu…

Em anos de serviços prestados ao Judiciário, assisti com satisfação, muitas vezes a justiça ser prestada com integridade… Infelizmente, também assisti outras tantas vezes, a justiça ser estraçalhada… Pisoteada pela burocracia… Pisoteada pelo apadrinhamento nesta “terra de compadres”… Pisoteada pela vaidade de quem tem o poder de decidir…

Mas é bom lembrar:  a “justiça” humana depende da ética e moral, que alguns tem, outros não – é uma caricatura grotesca… mas a justiça verdadeira é um dom divino e está entranhada em nós desde o nascimento… Negá-la, é negar nossa origem…

E é por isso que busco ser justo e imparcial… Sei que um dia virá o Semeador para separar o joio do trigo… e nesse dia prestaremos contas sobre quem fomos e o que fizemos – se fomos bons ou ruins… generosos ou egoístas… justos ou injustos… E  nesse momento, quero estar tranquilo quanto aos meus atos e em paz com minha consciência…